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domingo, setembro 8, 2024

Uma homenagem às mulheres “mal amadas

Dia desses ouvi a expressão “mal amada”, tida como uma espécie de xingamento destinado a mulheres que, no entender do emissor, não se encontram com disposição de agradar ou ser simpáticas. Me pus a refletir quantos estereótipos de gênero estão presentes na associação direta entre humor, estado de espírito, modo de ser de uma mulher, ou seja, toda a complexidade de sua vida, com sua validação ou não, através de um relacionamento romântico.
Digo mulheres porque, alguém já viu ou ouviu um “mal amado”? é provável que não, porque aos homens, muitas são as possibilidades de vida, e portanto, de humor, que não se vinculem necessariamente ao relacionamento afetivo. Trabalho, política, futebol, dinheiro, são muitas as dimensões do mundo masculino às quais podem dizer respeito seu estado de espírito, sem precisar de um relacionamento afetivo para legitimação social.
No caso da mulher, qualquer suposto desvio do que é dela esperado, é atribuído ao fato de não ter aquilo a que sua existência de destina: um amor romântico, e claro, cisheteronormativo. Esta vinculação direta da mulher ao relacionamento anula, no imaginário do emissor, e também no imaginário social, sua autonomia e a possibilidade de escolha que possa ter sobre as múltiplas dimensões da vida. Toda a sua complexidade pessoal e social se resume ao fato de viver ou não o “amor”.
Escrevo esta coluna como uma espécie de desagravo, e uma homenagem às mulheres “mal amadas”. Quiçá, possamos ser simplesmente humanas, vivendo todas as complexidades e multiplicidades da vida, e nos permitindo sentir as dores e delícias de ser o que se é, parafraseando Caetano. Um brinde!

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