Não dá para entender tanta resistência de parte da classe política no país com o projeto de Lei que busca regulamentar a internet e controlar as fake news, pois tudo que existe em sociedade justa e democrática tem controle e algum tipo de regulamentação. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, acertou muito quando questionou diante de senadores qual prerrogativa exclusiva é esta que querem dar agora à internet como sendo a única forma de organização sem qualquer regulação ou controle. Afinal, a internet é um espaço comercial e tem produzido lucro a pessoas. Se todo o comércio é regulado e sofre algum tipo de controle, por que a internet teria algum estatuto privilegiado de absoluta exceção?
Os meios de comunicação de massa também possuem controle e regulação. A propaganda possui controle e regulação. O trabalho médico também. Todas as atividades que têm relação de consumo, que geram ganhos, que reproduzem mecanismos do sistema de capital, mesmo o mercado da especulação financeira, por exemplo, também têm controle e regras claras. Querer que a rede mundial de computadores e as redes sociais continuem sendo um território sem lei é legitimar o vale-tudo, admitir que se deseje uma sociedade mergulhada na mentira, na fabricação de notícias falsas, protegida pela irresponsabilidade e de forma inconsequente.
A própria questão da violência nas escolas tem direta relação com a irresponsabilidade que vigora nas redes sociais, com conteúdos que estimulam e até orientam atos de violência. É absolutamente falso querer associar regulação da internet contra liberdade de expressão. A verdade é que só com regulação serão evitados abusos. O controle não é para coibir pensamentos oposicionistas ou opiniões, mas, há conteúdo que incentiva que jovens se automutilem, há incentivo ao neonazismo e que carece de regulação específica. Há uma fábrica de falsa realidade, com manipulação de imagens e de áudios enganando pessoas.