Em 2021 fechamos o ano com 62,5 milhões de cidadãos na pobreza (29,4% da população), de acordo com a linha de pobreza estabelecida pelo Banco Mundial (rendimento per capita mensal de equivalentes R$ 486,00). O 2º Inquérito sobre Insegurança Alimentar, divulgado em setembro corrente, pela Rede Penssan, mostrou que 125,2 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar. Isto representa ao redor de 58% de toda a população nacional. Ora, isso significa que mais da metade dos consumidores brasileiros praticamente estão alijados do mercado, se concentrando em apenas sobreviver. Trata-se de um mercado enorme, maior do que toda a população da França, Espanha e Portugal somadas. E mais, no Brasil, 15,5% dos brasileiros passam fome, a qual é o espelho da pobreza em um país. No rico Rio Grande do Sul, 2,8% dos habitantes estão em situação de extrema pobreza, com renda per capita diária abaixo de US$ 1,90, enquanto 14% das famílias passam fome. É sabido que a economia de um país melhora se o poder de consumo, do conjunto de sua população, for importante. Um consumo pujante gera mais empregos e impostos, permitindo, se soubermos gerenciar o processo, melhorar a vida da grande maioria. Assim, um dos mais importantes desafios do novo governo, após receber uma péssima herança fiscal, é agir com responsabilidade nos gastos públicos, reduzindo as desigualdades sociais. Essa, passa por colocar mais brasileiros no mercado consumidor, diminuindo a pobreza! Ora, planos emergenciais ajudam no curto prazo, mas estão longe de ser uma solução duradoura. O caminho é modificar a estrutura de renda da sociedade. E melhorar a vida de mais da metade de nossa população não passa por tirar, unilateralmente, de quem tem, para dar a quem não tem. Passa, sim, por uma responsável administração do dinheiro e da estrutura pública. Em nosso caso, concentrando-se no controle fiscal, nas reformas estruturais bem-feitas (tributária, administrativa etc), e na redução das desigualdades sociais via eliminação dos privilégios de uma minoria. Não há como crescer de forma sustentável sem fazer isso. Impressiona como parte de nossa sociedade, de todos os matizes ideológicos, cada um a seu tempo, não consegue, ou não quer, entender esta simples equação, preferindo ações inconsequentes, eivadas de discursos vazios de fundamento.