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domingo, setembro 8, 2024

Pesquisador norteamericano revitaliza o criador da enciclopédia

Criador da Enciclopédia, o filósofo francês, Denis Diderot, foi pioneiro da democratização do conhecimento em larga escala. É o que conta o biógrafo Andrew Curran, professor e escritor norteamericano que se tornou especialista neste pensador iluminista do século 18. Os 17 primeiros volumes da “Enciclopédia”, criados na França, reuniam todo o
pensamento produzido pela humanidade e eram vendidos de porta em porta para que cada vez mais pessoas pudessem ter acesso ao conhecimento.

Autor do livro “Diderot e a arte de pensar livremente” que acaba de ser lançado no Brasil, Curran afirma que não tem a menor dúvida de que o filósofo francês teria sido o criador da Wikipedia se estivesse vivo nesse nosso tempo e, talvez, teria sido até mesmo o criador do próprio Google ou outras plataformas de busca que hoje utilizamos em larga escala na internet.

A ideia era a mesma, apesar de que sem internet esse processo só podia ser feito com enormes limitações. “Mas é fabuloso que a preocupação era a mesma”, diz ele.

Quando a rede mundial de computadores não existia, as pessoas procuravam sobre assuntos em livros chamados enciclopédias e por ali se informavam graças a este empenho de Diderot e de centenas de outros pensadores iluministas, como D’Alembert e Montesquieu. Além de criar hábitos e paixões pela leitura, os volumes das enciclopédias formaram gerações numerosas de estudantes e professores, garantindo acesso a uma cultura geral. A procura de dados era demorada, reflexiva, página a página, e bem diferente do modo rápido e imediato com que fazemos quase tudo hoje, mas que tem o lado negativo de acabar nos satisfazendo com qualquer primeiro resultado de pesquisa.

É verdade que para muitas famílias, as coleções de livros das enciclopédias não passavam de símbolo de status nas estantes das salas de casa. Mas é bem fácil reconhecer que aquele empenho de um grupo numeroso de intelectuais conhecidos como enciclopedistas, do qual Diderot fora de fato o pioneiro, em um tempo sem internet, era o mesmo para fazer o que hoje chamamos de hiperlinks: os volumes das enciclopédias traziam mais de 20 mil referências cruzadas, com apontamentos para que o leitor encontrasse, em outro volume da obra, mais dados complementares àquela informação inicial que precisava.

Hoje, fazemos tudo isso com apenas um click no computador. Mas, talvez, não com a mesma dedicação para o aprendizado como se acreditava que era feito no passado. Há uma crise social no mundo contemporâneo em relação ao valor do conhecimento e uma perda de reconhecimento na aprendizagem por conteúdos.

Os textos das enciclopédias foram perdendo seu valor de atualidade com o passar do tempo e os volumes se tornaram apenas material de acervo histórico. Já não interessavam nem mesmo mais às escolas. Apesar disso, para o biógrafo de Diderot, a vida e obra deste pensador francês desperta ainda hoje a curiosidade e o interesse pela forma como aqueles livros reuniram disciplinas tão diferentes, com seus verbetes construídos com muito ceticismo e com o
cuidado de não assumir defesa de ideias e pontos de vista. “O ceticismo é uma arma contra o dogmatismo”, lembra Curran, ao destacar o quanto essa atitude filosófica é fundamental hoje em dia, quando as pessoas estão propensas a afirmações radicais e a raciocínios absolutistas. O raciocínio ceticista é o pensamento filosófico baseado na dúvida.

“Precisamos desenvolvê-lo cada vez mais nas pessoas”, diz Curran. O biógrafo reconhece modernidade no pensamento de Diderot e diz que quem passa a conhecer o seu trabalho se apaixona pela forma como ele descreveu questões absolutamente atuais ao nosso tempo, como sobre o amor, o sexo, os abusos sexuais, o clero, os direitos dos povos, a escravidão e centenas de outros temas. Para este pesquisador norte-americano e autor da biografia de Diderot, a internet fez o que as enciclopédias pretendiam e não poderiam ter feito melhor naquele tempo porque não havia tecnologia. Ele diz em seu livro que é possível aprender ainda com elas e com o trabalho dos intelectuais iluministas ao construí-las, reconhecendo sua metodologia e o valor daquele conhecimento acumulado.

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