Uma característica de movimentos de protesto dos extremistas é a de que eles se afastam tanto da realidade que quando se dão conta dela, a sua reação é de barbarismo e fúria, ficam revoltados. O negacionismo é uma forma de afastamento. E ele continua, mesmo disfarçado, entre aqueles que sentem medo ou vergonha de admitir que acham que os extremistas que vandalizaram Brasília estão é certos e aqueles que apoiam a causa, mas, não a forma de protesto, como se fosse mesmo possível separar as duas coisas.
Os norte-americanos os chamam de deniers e os alemães os chamam de Querdenker. O movimento do négationnisme teria surgido na França, em 1948. Hoje é um movimento global, está presente praticamente no mundo inteiro. Na história civilizacional humana, os movimentos extremistas foram o germe dos fundamentalistas, cujo radicalismo se faz na manipulação religiosa, ou ideológica e política. Ele não é privilégio da direita conservadora, nem nunca foi exclusividade de uma esquerda radical. Sempre esteve ali, alimentado aos poucos, na postura insistente de não aceitar fatos e de acreditar que teorias da conspiração são válidas como explicações em quaisquer contextos.
A superstição domina o pensamento e não se consegue mais distinguir fatos reais de notícias falsas. Isso é tão loucamente absurdo que enquanto as redes de televisão transmitiam naquele domingo, dia 8 de janeiro, o quebra-quebra nos prédios do poder em Brasília, pessoas comuns diziam, em pequenos círculos de amigos e familiares e, até nas redes sociais, que aquelas imagens eram montagens, não eram reais, que aquilo tudo era fake news e não estava acontecendo.
A era da imagem, em que tudo é visto e observado, enfrenta agora a contradição da negação dela própria. As pessoas passaram, compreensivelmente, a desconfiar do que elas mesmas veem, incapazes de distinguir mais entre cenas reais e cenas mentirosas. O extremismo é sempre o choque de realidade.