O tema da redação do último Enem foi: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. De repente (e finalmente), uma geração inteira se vê obrigada a refletir sobre o trabalho de cuidado como um problema de toda sociedade.
Durante toda a história recente, esse trabalho foi exercido pelas mulheres de forma gratuita, pois a sociedade as ensinou que isso seria uma demonstração de “amor”, algo da sua “natureza”, que deveria ser feito porque havíamos nascido pra isso.
Por isso a filósofa Silvia Federici afirmou que “o que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado”, afirmando que tais justificativas nada mais eram do que formas de justificar a exploração do trabalho doméstico e trabalho do cuidado realizado pelas mulheres.
É preciso reconhecer que, para que a vida pública possa acontecer, alguém precisa lavar roupa, passar, preparar o alimento, organizar a casa, educar e cuidar das crianças, dar assistência aos idosos.
O trabalho do cuidado – tanto na forma direta (em casa) e indireta (trabalho doméstico) – é um trabalho como qualquer outro, que, embora possa ser exercido com amor (as vezes, mas nem sempre), precisa ser devidamente valorizado. Isto começa pela sua visibilização como de fato um trabalho que, embora possa ser exercido no âmbito de relações afetivas e familiares, não deixa de ser um trabalho, que merece reconhecimento, remuneração e preocupação com a saúde e bem-estar de quem o exerce.
- participação da médica ginecologista Sheila Carvalho e a mestranda Ana Luísa Dessoy Weiler