Em uma eleição que será marcada pela polarização e pelo forte enfrentamento entre lulistas e bolsonaristas, os partidos têm adotado postura menos aberta à diversidade de gênero na definição de candidaturas nos estados.
Mulheres são apenas 1 em cada 7 pré-candidatos a governos estaduais. O percentual é inferior ao registrado nas eleições de 2018 e poderá ser ainda menor, já que parte delas ainda não foi referendada por seus partidos.
Até agora, 22 mulheres se lançaram pré-candidatas a governos estaduais em um total de ao menos 161 nomes que devem concorrer aos governos dos 26 Estados e Distrito Federal —o equivalente a 14%. Em 2018, esse percentual chegou a 15% com 30 candidaturas femininas. Quatro anos antes foram 20 candidatas mulheres, representando 11% do total de postulantes a governos estaduais. Apenas seis estados brasileiros já elegeram mulheres governadoras: Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima.
O Rio Grande do Norte é o recordista nesse quesito: foram três governadoras desde a redemocratização. A última delas foi a atual governadora Fátima Bezerra (PT), única mulher eleita para um governo estadual em 2018. Ela vai concorrer a um novo mandato em outubro e tentar repetir o feito de ser reeleita para um governo estadual, que só foi alcançado por duas mulheres no Brasil: Roseana Sarney, no Maranhão, e Wilma de Faria, no Rio Grande do Norte.
Fátima Bezerra vai para a disputa na condição de favorita, mas avalia o momento como de maior dificuldade para as mulheres. Ela diz que a ascensão do presidente Jair Bolsonaro (PL) — que, em sua avaliação, comanda “um governo federal de perfil machista e misógino”— resultou em retrocessos em todos os espaços de atuação e participação feminina. Outras duas mulheres assumiram os governos estaduais em abril deste ano com a renúncia dos titulares para as eleições, mas não há garantia de continuidade.
No Piauí, a governadora Regina Sousa (PT), que assumiu o posto de Wellington Dias (PT), diz que não pleiteou disputar a sucessão por questões de saúde. Estado nunca comandado por uma mulher, Pernambuco vive a situação inédita de ter duas mulheres liderando as pesquisas para o governo: a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) e a ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB).
Marília Arraes, que teve que deixar o PT para viabilizar sua candidatura ao governo, classifica a política como um espaço ainda hostil às mulheres, que disputam em condição desigual no acesso aos recursos de financiamento e tempo de televisão. Já Raquel Lyra, que foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de Caruaru, agora tenta ser a primeira governadora de Pernambuco. Ela destaca a maior presença feminina na eleição majoritária como um marco para o estado.
Em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral definiu que ao menos 30% do fundo público de financiamento de campanhas, o chamado fundo eleitoral, devem ir para candidaturas femininas. Cabe aos partidos decidir quais candidaturas que serão beneficiadas com os recursos para candidaturas de mulheres, o que inclui candidaturas majoritárias com homens como cabeça de chapa e mulheres como candidatas a vice. Com isso, o número de mulheres candidatas a vice cresceu.