Homero Machry foi para Paris na década de 1970, onde promoveu eventos e festas para a alta sociedade. Hoje está estabelecido no Marrocos, e nesta semana esteve na redação do JM para divulgar sua autobiografia denominada “Era uma vez um outro mundo”
Homero Machry, 64 anos, é natural de Cerro Largo, mas tem uma vasta relação com Ijuí. Morou aqui por pouco tempo, mas sua família é muito lembrada até hoje. A mãe, Esther Machry, foi uma grande estilista e ditava moda na alta costura. Ela teve outros quatro filhos: Marialva, que atualmente mora em Niterói/RJ, e que o acompanha nesta visita a Ijuí; Aramy, que vive em Lisboa; o médico pediatra Amaury, que clinicou durante muitos anos em Ijuí e vive em Florianópolis, e Maria da Graça, já falecida.
Homero viveu muito tempo em Paris e há anos está radicado no Marrocos. Esta semana passou por Ijuí, visitando amigos e familiares, entre eles sua prima, a odontóloga Lisiane Kruger Gomes. Com ela e a irmã Marialva esteve na redação do JM, onde rememorou um pouco de sua história de vida e divulgou o livro que está para lançar sobre sua vida, intitulado “Era uma vez um outro mundo”. É baseado em mais de 1,8 mil matérias que saíram sobre ele em revistas e jornais pelo mundo, além de centenas de convites que recebeu para festas no mundo inteiro.
Homero saiu de Cerro Largo aos 16 anos para ir morar em Santa Maria. Sua família veio para Ijuí, onde o irmão Amaury Macry era médico. Em Santa Maria, Homero fez dois anos de Medicina. “Eu tinha uma namorada e decidimos ir passar o Carnaval no Rio de Janeiro. O pai dela dizia que eu ia trabalhar na clínica médica dele, mas eu sabia que não ia ficar no Brasil. Eu queria conhecer o mundo”.
No Rio de Janeiro, em uma festa do sogro do irmão Amaury, foi convidado para uma feijoada na casa do famoso cirurgião plástico Ivo Pitanguy, onde conheceu, aos 21 anos, a atriz Úrsula Andress. “A moça que nos apresentou era relações públicas da maior boate de Nova Iorque, a Estúdio 54, e foi aí que fui embora do Brasil”. Assim começaram suas vivências mundo afora.
“Educação, valores e coragem; se a gente não tem isso tudo, não dá certo. Eu tive uma educação de moral, fui, comecei a trabalhar e deu certo. Fui a Roma, aprendi o italiano em 10 dias. Fui a Paris, me inscrevi em uma escola de francês e aprendi em dois meses”.
Ele começou a trabalhar em um evento chamado “The Best”, que premiava os 10 homens e as 10 mulheres mais elegantes do mundo. Depois teve a ideia de fazer uma revista com esse nome. “Tive uma amiga, uma senhora argentina, que me deu cem mil dólares para começar a minha vida. Comprei minha parte na revista e aí começou a minha vida”.
Homero diz que nada veio por acaso, que aproveitou as oportunidades e investiu em trabalho, em fazer acontecer. Na Europa, que teve anos de muito glamour, conheceu diversas pessoas famosas. Através da premiação The Best, ele conheceu muita gente de cinema e toda a sociedade mundial. “Foi fácil. Comecei a trabalhar nas boates, fui diretor de boate, tive restaurante em Paris e tinha um caderno de endereços só de pessoas famosas”. Passou a organizar festas grandiosas, para pessoas e empresas como a Cristian Dior, Yves Saint Laurent, Cartier.
Depois de Paris, em que atuou em seu próprio restaurante, Homero decidiu se mudar para o Marrocos, e diz que o motivo foi a segurança. No Marrocos, ele teve uma pousada. Pelo fato conhecer o rei do Marrocos e suas irmãs, Homero diz que as coisas ficaram mais fáceis. Com o dinheiro da venda do restaurante, ele finalizou sua pousada e começou a trabalhar como hoteleiro. Foram 20 anos. Depois decidiu parar e vendeu a pousada.
Sua autobiografia reúne suas histórias de vida e de trabalho, por meio de registros que guardou desde que chegou a Europa em 1979, em revistas americanas, francesas, suíças, alemãs, italianas, além de muitos convites, como o de Cristian Dior, que fez três grandiosos bailes em 30 anos, dois deles organizados por Homero. Os 60 anos de Cristian Dior, no Castelo de Versalhes, teve 13 mil pessoas.
“Há cerca de três anos decidi que era o momento de contar essa história. Acredito que tudo na vida é uma questão de tempo, e comecei a selecionar tudo. A memória é algo que pouco a pouco vai se indo. Comecei a anotar as histórias de minha vida, e agora estou na correção”. Ele prevê o lançamento para o verão. A edição europeia terá prefácio de sua amiga Paloma Picasso, filha de Pablo Picasso, e brasileira, do jornalista Bruno Astuto, do Rio de Janeiro.
De volta ao Sul do Brasil, comenta divertido que aqui só comeu mandioca, carne de porco, feijão e arroz, coisas que não existem no Marrocos. Pretende voltar no final do ano, para o lançamento do livro. “É sempre bom voltar às raízes”. Ele pretendia fazer o último capítulo de seu livro com o subtítulo “Retorno a Cerro Largo, 40 anos depois”. Mas diz que mudou de ideia depois de visitar a cidade. “Compreendi que o passado é uma roupa que a gente não usa mais. Temos que olhar sempre para frente. Temos que guardar as lembranças, mas não tentar mudar”.