Sou leitor assíduo de obituários. Assino e leio três diários a cada manhã, além de receber pelos Correios vários semanários do Interior. Nem os editais e outras publicações legais escapam da minha lupa. Voltando às biografias dos que nos deixaram, permitam explicar a predileção por este tipo de leitura.
Não me julguem uma pessoa mórbida ou sádica. Leio obituários porque ali descubro heróis anônimos, gente que honrou a condição humana porque fez o bem, batalhou e deixou saudades sinceras pela trajetória terrena. Tinham defeitos, claro, mas as virtudes ganham de goleada.
Há poucos dias chamou minha atenção a história da dona Glória Prass, moradora de Maratá , município do Vale do Caí, que partiu aos 80 anos de idade. O texto conta que ela tinha facilidade para alfabetizar, um dom raro. Tamanha paixão fez com que lecionasse até os 70 anos.
O relato revela que fora da sala de aula ela ensinava as crianças a nadar em uma cachoeira da região. Dona Glória, além disso, era uma pessoa muito religiosa, catequista e ministrava aulas de crisma. Os filhos relatam que levava turmas da escola para ajudar no ajardinamento da gruta Nossa Senhora de Lourdes, local de visitação pública.
Certamente dona Glória nunca foi agraciada com uma medalha ou qualquer outra honraria em vida, apesar dos talentos e da generosidade que deixou como legado. Talvez haja o despertar do reconhecimento ou pela demagogia de algum político ela vire nome de rua.
Ela adorava datas como Natal e Páscoa. E que, já aposentada, mantinha inúmeras atividades, como a dedicação à pintura de panos de prato para a igreja e de casinhas para passarinhos existentes na cidade. Uma vida simples, longe dos holofotes da mídia. Poucos provavelmente a conheciam fora dos limites da comunidade onde vivia. Mas os privilegiados que conviveram com Glória Plass conheceram uma pessoa única, comprometida somente em fazer o bem, através do ensino e do exemplo.
Longe de procurar notoriedade, fama ou reconhecimento, a octogenária de Maratá passou por aqui e deixou um rastro de inspiração. Em um mundo onde viceja a intolerância por todo lado, dona Glória é uma grata exceção que conheci,mesmo que à distância. Graças à leitura do obituário.