Heranças culturais
Preservar a cultura, a memória de seus antepassados é cada vez mais raro, e se tornou tarefa dos mais velhos, que herdaram muita coisa – seja a língua, músicas, receitas, objetos – e querem passar aos filhos e netos, para que toda essa riqueza histórica não se perca. Esse é mais um especial que a Stampa começa nesta edição, com três exemplos
Ana Jacoboski, 80 anos, e José Alexandre Jacoboski, 85 anos, são descendentes de poloneses, e há 32 anos moram nas proximidades da Fonte Ijuí, onde preservam até hoje a cultura que herdaram de seus avós. Eles se conheceram quando eram vizinhos e se casaram há 62 anos. Atuaram em diversas frentes na localidade de Santana, especialmente na agricultura e criação de peixes de açude.
Em meio a muitas fotos de família, na estante da sala, eles guardam um mimo que veio direto da Polônia – um pequeno vaso de madeira, que ganharam do padre Luiz Gazda, já falecido, na década de 1980, e que tem um valor sentimental para os dois, pois era amigo da família e atuava na Igreja da Natividade. Também há um quadro com a foto da Nossa Senhora de Monte Claro, santa da Polônia.
Ana faz parte do Grupo de Canto Zgoda, da Sociedade Polonesa Karol Wojtyla, desde sua fundação, em 1987, e uma de suas maiores paixões é cantar em polonês e rezar. Faz de tudo para manter sua cultura de origem e repassar aos seis filhos, 11 netas e um neto. Nas reuniões de família, até o Parabéns à Você é em polonês. “Fico muito feliz em ver minha família toda cantando em polonês, choro de emoção”, diz Ana, lembrando emocionada que a avó Ana e o vô José se casaram no navio, durante a viagem de 45 dias que os trouxe da Polônia.
Mas são os pratos típicos que eles destacam como uma tradição de família, que Ana aprendeu com a avó, de quem ela leva o nome, e a mãe, e que agora suas filhas fazem com muita dedicação e cultuam no dia a dia. E são esses pratos que ela apresentou à Stampa. O Barsz, uma sopa típica polonesa com embutidos e batata; o Passki, um sonho recheado; o Pierog, doce e cozido com creme de nata, e o Pierog frito; o Rogalski, recheado com maçã, banana ou morango. Algumas receitas, a família aprendeu com a mãe do padre José Pozzwa, outro descendente polonês e amigo da família.
“Manter as tradições é fazer com que nada seja esquecido. Minha avó rezava e cantava em polonês e foi com ela que aprendi. Cada dezena do terço ela rezava pela família e nós brincava em roda dela, prestando muita atenção”. As filhas Mareci e Lenir moram perto dos pais e estão sempre auxiliando no que precisar. Elas aprenderam e fazem os pratos típicos. Também falam e entendem polonês, tradição que querem manter.
Ana reitera que o que mais mantém em sua memória afetiva são os cantos. “Uma tradição polonesa é reunir a família, com muita comida e canto polonês, língua que quero preservar e passar adiante, para que nunca se perca”.