Após os impactos da pandemia e da guerra da Ucrânia na economia global, o empresariado pressiona para que o País volte a centrar esforços em uma política industrial própria. O movimento segue tendência já verificada em outras partes do globo, como Estados Unidos, Canadá e Europa, que adotaram iniciativas estratégicas com verba na casa de dezenas de bilhões para reduzir a dependência chinesa. No Brasil, o setor vem mostrando dificuldades de se recuperar após o baque da pandemia.
Na avaliação de entidades empresariais, executivos e especialistas, o Brasil precisará buscar uma nova estratégia para aproveitar o momento e se tornar um fornecedor global de produtos finais ou insumos industriais.
E o caminho para chegar nesse objetivo vai muito além da recriação do Ministério da Indústria, uma promessa comum a todos os principais candidatos à presidência em 2023 e demanda número um do setor produtivo.
Especialistas ressaltam que não se trata apenas de ter um canal direto de interlocução com o empresariado, mas uma pasta que tenha como foco a digitalização de processos e a sustentabilidade ambiental.
Estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgado ontem, ressalta que uma política industrial moderna terá impacto no crescimento e no desenvolvimento da economia, tomando como base não apenas a recriação da pasta, como mudanças estruturais na economia, como a reforma tributária, o aumento de pesquisa e desenvolvimento e melhora da produtividade.
No governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Indústria foi incorporado com outras pastas na criação do Ministério da Economia, mas seu retorno é prometido pelo próprio Bolsonaro, por Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet. A volta da pasta faz parte de uma lista de 60 reivindicações que a Firjan faz ao próximo governo.
No documento, a entidade estima que o aumento da produtividade poderia gerar um crescimento de US$ 1,040 trilhão no Produto Interno Bruno (PIB) nos próximos cinco anos — o que significaria uma expansão de US$ 1,804 trilhão para US$ 2,821 trilhões correntes. O Brasil também subiria da 12ª para a 8ª posição no ranking das maiores economias do mundo até 2027, de acordo com o prognóstico da federação.
Dados do estudo mostram que o último período com crescimento da produtividade no País foi registrado entre 2001 e 2010, quando houve expansão de 1,5% em média ao ano. Entre 2011 e 2019, houve queda de 0,1% ao ano.
Segundo o presidente em exercício da Firjan, Luiz Césio Caetano, a agenda é composta por medidas que cabem em quatro pilares: ambiente de negócios, infraestrutura, capital humano e eficiência do Estado. “A elevação da produtividade deve ocorrer a partir de uma política industrial sólida”, afirma Caetano.
Para o superintendente de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato Fonseca, o Brasil tem duas vantagens nesta busca por uma nova política industrial: muitas empresas americanas e europeias já estão aqui e a energia produzida no país é uma das mais limpas do mundo. “Setores como o automotivo, o de alimentos e o de bens de capital têm mais chances de garantir aos brasileiros o status de fornecedores fiéis para as indústrias desses setores”, disse Fonseca, que alerta: “Mas se não fizer o dever de casa, o Brasil vai perder espaço para outros países do hemisfério, como México e Colômbia.”