Em 2022 a recuperação do mercado de trabalho, no Brasil, é uma grata surpresa. A taxa de desemprego, que ainda era de 11,1% (PNADC) no final do ano de 2021, recuou para 9,3% no final de junho/22 e para 8,9% no trimestre encerrado em agosto/22. Além disso, os empregos formais cresceram 1,4 milhão entre o último trimestre de 2021 e o final do segundo trimestre de 2022. No entanto, o processo ainda é incipiente. Afinal, em paralelo à criação de empregos ocorre uma queda do rendimento médio real do trabalho, ou seja, as pessoas estão ganhando menos. Por outro lado, há sérios problemas estruturais, pois toda a criação de postos de trabalho, entre 2012 e 2019, e que se recupera agora, após o auge da pandemia, se deu em ocupações caracterizadas por baixa renda, pouca instrução e alta informalidade. Assim, desde o ano passado, a volta do emprego tem sido puxada por segmentos intensivos em trabalho e de mais baixa produtividade, o que indica que a melhora do mercado de trabalho, em 2022, é “apenas” a recuperação dos setores mais atrasados. Ou seja, “trata-se de uma recuperação do mercado de trabalho com muito emprego para pouco PIB”, pois ainda o processo se dá com elevada subocupação e baixa participação. “Esta última, que é o resultado da razão entre a força de trabalho (PEA) e a população em idade de trabalhar (PIA), durante a pandemia caiu, com a saída de milhões de pessoas da PEA, e ainda está em 62,6%. Caso a taxa de participação voltasse ao nível médio do período 2017-19, de 63,4%, haveria 1,4 milhão de pessoas a mais na PEA, e a taxa de desemprego em junho teria sido de 10,4%, e não de 9,3%. Afora isso, a desaceleração da economia está chegando, a partir do aperto nas condições financeiras do país (alta dos juros). Só não chegou neste segundo semestre porque foi adiada pelas medidas fiscais de estímulo no ano eleitoral. Nota-se que, à medida que sobem as projeções de crescimento do PIB em 2022, recuam as relativas a 2023, que em alguns casos já entraram em território ligeiramente negativo. Se esses prognósticos estiverem corretos, o mercado de trabalho voltará a sofrer impactos negativos da atividade econômica entre o final deste ano e 2023.”. Assim, é inegável a melhora conjuntural, porém, há muitas dúvidas se esta dinâmica é persistente e sustentável (Conjuntura Econômica, FGV, Agosto/22. pp. 6-8).