Formada em Arquitetura pela Universidade Federal de Santa Maria em 2005, Lídia Gomes Rodrigues, fez especialização em Arte e Visualidade na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), quando começou a estudar Art Déco, estilo arquitetônico de grande influência no mundo todo. Após a formatura fez concurso e passou a atuar como arquiteta da prefeitura de Santa Maria, Em 2011, partiu para uma experiência acadêmica internacional. Fez um máster na Universidade Autônoma de Madri na área de Planejamento Territorial Sustentável, e começou a estudar Patrimônio Cultural. Em 2021, ao concluir o Mestrado na UFSM em Patrimônio Cultural, passou a cuidar também das demandas de patrimônio arquitetônico daquele município.
Foi a partir daí que se interessou em expandir a pesquisa e incluir Ijuí, já que todos os meses vem a cidade, onde reside sua mãe, Sylvia Siqueira Rodrigues. O olhar mais atento sobre o patrimônio arquitetônico de Ijuí passou a revelar a Lídia muito mais do que estava acostumada a ver. “Por exemplo, o letreiro no HCI eu só percebi há pouco tempo. Os dois cinemas, sim, são mais expressivos. Claro, que esses são dados restritos ao visual, sem uma pesquisa histórica, que para isso precisaria ir ao arquivo da prefeitura descobrir ano de construção, autor, etc. O campo pode ser vasto”, explica.
Ijuí acompanhou a tendência mundial de Art Déco e vários exemplos ainda ocupam espaços de grande visibilidade, especialmente no Centro da cidade. Entre os prédios Art Déco que mais impressionam, por apresentarem características bem marcantes, Lídia lista os dois cinemas, América e Serrano, destacando o segundo – “para mim o mais sensacional, que tem semelhanças com prédios de Miami e de Goiânia” – , as instalações originais do Hospital de Caridade de Ijuí, o Edifício Hocevar, na Praça da República, a antiga Loja Sabo, na Rua do Comércio, um posto de combustíveis e um sobrado na Coronel Dico, o prédio na José Bonifácio, na esquina em frente a Renner.
“Eu acredito que o patrimônio arquitetônico é o testemunho concreto de outros tempos históricos. A preservação deste patrimônio garante a manutenção da memória da cidade, cria uma identidade cidadã. Além do mais, embeleza as ruas com as relíquias. E principalmente, esta preservação pode andar junta com a contemporaneidade das edificações, através da adequação e novos usos, ao mesmo tempo que preserva.”
CONCEITO
O estilo Art Déco é uma das vertentes de expressão artística mais importantes do período entre guerras do século 20 que se difundiu nas artes decorativas, artes gráficas, mobiliário, escultura, joalheria, moda, meios de transporte, objetos de decoração e, também, na arquitetura. O estilo refletia a necessidade do novo, em um mundo recém-saído de uma guerra, que se inclinava em uma direção mais otimista.
Surgiu na França e foi apresentado ao mundo na exposição universal Exposition Internationale dês Arts Decoratifs et Industriels Modernes, que aconteceu entre abril e outubro de 1925, no coração de Paris.
Identificado como um estilo cosmopolita, suas ideias foram adotadas com entusiasmo por artistas, artesões e público, sobretudo o urbano, e avançaram por vários países, provocando reflexos nas diversas áreas da cultura. Suas características mais marcantes são a presença da simetria; o uso do concreto armado; o acesso centralizado; a divisão da estrutura em base, corpo e coroamento; a predominância de cheios sobre vazios; a presença de formas aerodinâmicas com superfícies curvas; a contenção de ornamentos decorativos – composição com linhas e planos, verticais e horizontais definidos e contrastados; uso da tipografia com a letra “Broadway” nas fachadas.
A difusão pelo mundo, se deu principalmente através das exposições universais, que eram acessadas pelos navios a vapor, os quais dominaram o cenário da navegação a partir de 1860 até o final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Um dos transatlânticos de maior destaque era o Normandie que apresentava a decoração de seu interior no estilo Art Déco. Este transatlântico aportou no Rio de Janeiro nos anos de 1938 e 1939, quando nova-iorquinos vinham à cidade carioca conhecer o famoso Carnaval.
Outras maneiras de difusão eram as revistas especializadas que tinham alcance internacional e proporcionavam a transferência de informação com eficiência, e os intercâmbios de arquitetos que, após o final de Primeira Grande Guerra, emigraram ao Brasil, e também os brasileiros que estudavam na Europa e traziam essas tendências no retorno ao país.
É um grande orgulho termos pessoas engajadas em preservar e ensinar sobre momentos de nossas vidas corridas, momentos esses que passam despercebidos na maioria das vezes, por pressa. Tenho orgulho de ser ijuiense e saber que a história dessa cidade tão amada ser inserida nas modernidades mundiais.