Caminhões lotados de entorpecentes, como maconha em formato de tijolos, deixaram de ser a única rotina de apreensões de enormes quantidades dos agentes de segurança pública nas rodovias gaúchas. Os cigarros trazidos do Paraguai ganharam recente destaque no Estado, agora dividindo atenções com outro produto: os agrotóxicos.
A logística usada pelos contrabandistas é a mesma do cigarro, armas e drogas ilícitas: passando pelos solos paraguaio, argentino e uruguaio – estes dois últimos fazem fronteira com o Estado – são as principais portas de entrada no Brasil.
Mais de 84 toneladas de agrotóxicos falsificados ou contrabandeados foram apreendidas no Brasil só nos dois primeiros meses deste ano. O número é bem maior do que foi registrado em 2020, que teve 59 toneladas apreendidas.
“A fragilidade das fronteiras brasileiras, porém, expõe a agricultura nacional ao uso indiscriminado desses produtos, uma prática de efeitos econômicos presumíveis, mas de consequências nocivas ainda imensuradas”, diz o presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras, Luciano Stremel Barros.
O relato de Luciano consta em estudo feito pelo instituto que trata da questão ano a ano. “É comum que os contrabandistas e falsificadores usem a mesma logística utilizada no transporte de drogas, porém a sofisticação das quadrilhas de agroquímicos se mostra cada dia mais elaborada”, conclui o estudo.
Já dados nacionais da PRF indicam que o problema vai além de ser algo intrínseco ao Rio Grande do Sul. Além do Paraná, Mato Grosso do Sul também é afetado pelo modus operandi dos contrabandistas.
Ao que tudo indica, os índices não devem apresentar queda durante 2022. Em abril passado, PRF realizou sua maior apreensão de agrotóxicos ilegais no Rio Grande do Sul. Durante operação de combate ao crime na BR-285, a equipe PRF visualizou uma carreta saindo da rodovia e entrando na cidade de Ijuí. Eles foram em direção e abordaram o veículo, uma carreta Volkswagen emplacada em Goiás que tracionava um semirreboque de Triunfo.
Na vistoria, os policiais descobriram que os galões eram de agrotóxicos proibidos no Brasil que foram importados ilegalmente da Argentina, totalizando mais de 10 toneladas. O valor de comercialização dos produtos supera R$ 500 milhões. Somente nas rodovias da 10ª Delegacia da Polícia Federal o número de apreensões de contrabando de agrotóxicos aumentou 35 vezes nos cinco primeiros meses de 2022 em relação ao mesmo período de 2020. Neste ano já foram apreendidos 15. 870 quilos de agrotóxicos. No ano passado foram 459 quilos e em 2020 foram 445 quilos.
A China é uma das principais fornecedoras de produtos ilegais que entram no Brasil, fazendo com que grande parte desses itens cheguem de navio no Chile, onde desembarcam para distribuição no Brasil.
Paraguai e Bolívia são alguns dos países que servem como ponto de entrada no Brasil, afetando assim diretamente os Estados que fazem fronteira com tais países.
Outras rotas alternativas são via o Uruguai e Argentina, com entrada dos produtos via Rio Grande do Sul.