A era da desinformação, da pós-verdade, das fake news e outras tantas armadilhas contemporâneas tem levado, de fato, à definição de que estamos numa sociedade marcada pelo cansaço. Para muitos intelectuais, sobretudo franceses, o que estamos vivendo nesse nosso mundo não são apenas crises que decorrem desse cansaço. São parte de um grande projeto, de um projeto de poder. Uma tentativa deliberada de fazer fracassar e morrer a democracia. Para que nela possa se impor um modelo centralizador, tirano, de controle, contrário a tudo que represente pluralidade, diversidade, contrariedade e o que eles próprios gostam de chamar de baderna, desordem e desobediência civil.
A sociedade do cansaço é um conceito desenvolvido pelo filósofo coreano, radicado na Alemanha, Byung-Chul Han, que mostra que a sociedade disciplinar e repressora do século XX, descrita por Michel Foucault, perde espaço para uma nova forma de organização social e política nesse século XXI, em que as pessoas se sentem ainda mais oprimidas e pressionadas à medida que precisam responder com um desempenho cada vez maior a tudo que fazem. Quem luta por direitos das minorias também se diz cansado. Trabalhadores desistem de procurar emprego, tornando-se uma população de desalentados. E a desinformação, somada à mentira, à informação deliberadamente falsa e enganosa, é um instrumento de alienação que alimenta vertiginosamente aqueles que se sentem ameaçados em sua condição privilegiada.
A lucidez é insuportável a grande parte desses cidadãos, arautos de um mundo saudosista de comando e obediência, de hierarquias opressoras, de reprodução de lógicas colonialistas. Cansa lutar contra eles, cansa continuar acreditando num mundo diferente e melhor. Mas cansam eles mesmos, quando habitam suas vidas de uma perseguição frenética aos ideais do capital, ao neoliberalismo alucinótico, à ideia incondicional do sucesso mapeado no comparativo e não na realização pessoal. E repente, alguns deles se cansam – e num ato de sensatez, colocam- por algumas horas, seus celulares numa gaveta. Desligados. Há salvação.