Há uma formação discursiva entre parlamentares conservadores e que apoiavam o último governo de que o presidente Lula quer se vingar do agro pelo apoio dado ao ex-presidente. Para os governistas, é só uma ideia da oposição na tentativa de criminalizar movimentos que estão sendo feitos dentro do atual governo. A CPI do MST vem sendo entendida por eles como uma revanche dos bolsonaristas que perderam as eleições para tirar o foco da CPI do golpe. Ela surge exatamente no momento em que o ex-presidente é alvo de inquéritos na Polícia Federal e começa a ser ouvido em sucessivos depoimentos. O interesse, dizem eles, é criar uma falsa comparação entre as duas CPIs e gerar versões mentirosas sobre os fatos.
Do lado governista, as ações também não são ingênuas. Há muito que se utilizam no Brasil formas simbólicas de convencimento da população sobre temas de interesse do poder, na tentativa de formar uma opinião pública a favor do governo. A mais comum é pela via do entretenimento, quando músicas, arte, cinema, teatro, literatura ou televisão, por exemplo, passam a construir no imaginário social uma ideia de realidade. O rádio fez muito isso no Brasil nos anos 1930 e mudou os rumos da política nacional.
Nesse sentido, não dá para ter uma visão ingênua sobre as telenovelas, em especial. Elas dramatizam a realidade, mas carregam mensagens muito claras à população. Há muito se colocou em dúvida se é o agro que leva o Brasil ou se é o Brasil que sustenta o agro.
A dupla face do agronegócio vai virando consciência de domínio público, mesmo que seja sob uma justificativa de um autor de telenovela que diz que criou o enredo porque gosta desse mundo que as pessoas precisam conhecer. Nada mais oportuno. Como se criou um personagem político na dramaturgia que era o retrato do poder corrupto e sem escrúpulos. É a ficção imitando a realidade: só que com um propósito nada inocente. Mas ninguém assiste certas emissoras mesmo, então, não temos com o que nos preocupar, não é mesmo?