A sigla LGBTQIA+ agora tem duas novas letras: P e N. Não existe consenso sobre a necessidade disso. Falta muito pouco para que se use o alfabeto inteiro se quisermos denominar as tantas variantes e seus desdobramentos. Essa forma tão contemporânea de nós compreendermos os sujeitos em suas múltiplas identidades de gênero já admite uma dificuldade com o uso de tantas denominações. Não é para menos. Há quem não quer letra nenhuma e não aceita ser rotulado. É compreensível. Porque afinal, já deixou de ser apenas uma questão de visibilidade para se tornar um problema de enquadramento.
A psicanalista Melanie Klein chegou a classificar nossa espécie como capaz de demonstrar até 17 diferentes sexualidades. E bem sabemos que identidade de gênero não é o mesmo que orientação sexual. Para quem não está talvez tão familiarizado com essas classificações: não importa se você é uma mulher trans, isto é, um sujeito que nasceu com o corpo de menino e foi se sentindo uma mulher com o tempo e transitando de gênero porque isso não significa a sua sexualidade: quer dizer, a mulher que você se torna pode ser um sujeito que sinta atração tanto por mulheres quanto por homens depois da transição. Gênero é uma coisa, orientação sexual é outra. Sim, é confuso, mas o ser humano é confuso mesmo.
E é bom a gente ir se acostumando que o futuro será de uma espécie humana muito diferente da classificação binária a que estamos acostumados. Isso é um fato irreversível. O que, no entanto, vale mesmo pensar, é se devemos gastar tempo nestas rotulações todas. Talvez a sociedade do futuro, híbrida e poliforme, finalmente alcance sua maturidade quando ninguém mais se preocupar em criar rótulos, nem para si e muito menos para os outros. Quando nos reconhecermos tão somente humanos, não importando as variações de corpo, de cor, nem de orientação sexual e muito menos de identidade. Quem classifica demais sectariza, segrega e só reforça preconceitos.