“Perdoa teus inimigos, mas não esqueça seus nomes”. A frase do ex-presidente norte-americano John Kennedy nunca foi tão atual. Em todos os segmentos da vida o ditado “olho por olho, dente por dente”, que consta do Código de Hamurabi – primeiro código de leis da história e que vigorou na Mesopotâmia, quando Hamurabi governou o primeiro império babilônico – tem sido o ideário de muita gente.
Quando um ano novo aporta, traço a imagem de um caderno novo, cuja capa de plástico protegia do uso ao longo do tempo. Depois de juras de amor, fraternidade e votos de saúde, o mundo real parece empedrar corações e mentes. E em poucos dias não há mais espaço para sentimentos tão nobres prometidos.
No Brasil, a política tem sido palco das mais dantescas manifestações humanas, se é possível classificar desta maneira. As verdadeiras parcerias e amizades naufragam, sobrepujadas pela convergência de interesses. Cargos, funções, lugares de destaque na atividade pública tornam invisíveis sentimentos como fidelidade, coerência, sinceridade, solidariedade.
Com a virada do ano, tivemos em Brasília o reforço do clima de beligerância inaugurado no pós-eleição de 2018. Imprensa e Judiciário contribuíram decisivamente para acentuar as divisões. É cada vez mais raro ler/ouvir o contraditório. É a lei do pensamento unido. A mídia virou palanque. Colegas jornalistas – com exceções – se tornaram cabos eleitorais para defender interesses inconfessáveis.
Com a posse, transmitida para todo País no domingo, foi deflagrada a temporada de caça às bruxas. Promessas de paz e reconstrução foram venci-das pela sede de vendeta para calar e esmagar quem pensa diferente. Alegrias de uns, depressão de outros, mas prejuízo garantido para todo o Brasil que há décadas busca um mínimo de união para enfrentar males históricos. Aí se alinham fome e pobreza – extinção ilusória para marketing e propaganda barata de governos populistas -, bem como analfabetismo, desemprego e falta de solidariedade.
Serão anos para ouvir termos surrados como “herança maldita”, “fim do obscurantismo e do atraso”. Novas promessas, novas gastanças – R$ 6 bilhões foram devolvidos na Lava-Jato – e exacerbação de ânimos. Esta será nossa rotina, aliás, nada original.