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sexta-feira, março 28, 2025

O Vazio de Emenefrildo

Num mundo governado pela “normose”, onde a normalidade é uma camisa de força, surge o ilustre Emenefrildo, o protótipo do superprodutivo que, paradoxalmente, afunda em um oceano de vazio interior. Esse indivíduo exemplar, alimentado por doses generosas da pílula mágica da conformidade, encontra-se na corda bamba da sanidade, mantendo-se equilibrado entre a insanidade e a normalidade.Em sua jornada pela engrenagem impiedosa do desempenho acentuado, Emenefrildo atinge o pico da produtividade, batendo recordes e superando expectativas. No entanto, à medida que escala as alturas da meritocracia, ele se depara com um abismo de cansaço, um vazio que a fórmula mágica da normalidade não pode preencher.Nessa comédia absurda da sociedade moderna, Emenefrildo percebe que, ao seguir as regras e superar a concorrência, ele se tornou um prisioneiro de sua própria excelência. A liberdade é apenas uma palavra bonita, pintada em tons de ironia, enquanto a engrenagem gira incessantemente, triturando a singularidade em prol da uniformidade.Dentro da toada contemporânea, sequer Emenefrildo pode adoecer, gerando uma angústia imensa diante dessa possibilidade. A enfermidade, normalmente um lembrete humano da fragilidade, torna-se uma ameaça à posição do superprodutivo. Ficar doente, além de desafiar a máscara da invencibilidade, significaria perder postos no desempenho e ser ultrapassado pelos que permaneceram incólumes. A ironia atinge seu auge quando a saúde torna-se um luxo proibido, e a angústia de uma possível doença ecoa nos corredores da sociedade do cansaço, onde até mesmo a vulnerabilidade é medida e julgada.E a angústia de Emenefrildo atinge seu clímax quando ele toma consciência de que, com o progresso da tecnologia, até mesmo os trabalhos mais sofisticados serão substituídos pela inteligência artificial. Em um futuro não muito distante, restarão apenas aqueles empregos que persistirão apenas para passar a ideia de que o humano ainda é necessário. A certeza de que sua busca incessante pela perfeição pode ser substituída por máquinas, reduzindo-o a uma engrenagem obsoleta, amplifica ainda mais a angústia de Emenefrildo, tornando-o prisioneiro de um sistema que valoriza a produtividade acima de tudo, mesmo à custa da essência humana. Emenefrildo sabe que os doutores precisam mentir que o futuro será diferente, de modo a não gerar um caos total e incontrolável da população.

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